Você já parou para pensar se é uma extensão da sua rede social? Tem estado cansada de produzir e consumir conteúdos o tempo inteiro? Rolou o TikTok ou Instagram durante várias horas e sentiu que dali não saiu nada de interessante? Se sim, essa edição de hoje é para você.
Sabemos que somos uma geração que cresceu em meio à internet e às redes sociais. Hoje, elas também são parte de quem nós somos. Mas como lidar com elas da melhor forma? Como desenvolver uma relação positiva? Essa relação de fato pode existir?
Cada uma de nós vive e trabalha com as redes sociais de forma diferente e temos certeza de que você, com certeza, também. A news de hoje é uma proposta para refletir sobre o espaço das redes sociais na nossa rotina e na forma como nos relacionamos com elas.
Arrasta para o lado para conferir mais! (Brincadeira 😂)
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Por Marina Moregula
Outro dia percebi que fazia quase um ano que eu não postava nada no meu feed do Instagram. Tomei um susto. Durante esse tempo todo, não deixei de usar a rede. Pelo contrário, tenho certeza que abri o aplicativo pelo menos uma vez todos os dias, mas só vi publicações dos outros. Eu mesma não tinha publicado quase nada.
Só percebi isso porque fui publicar um vídeo no Reels e, na hora de postar, senti um desconforto e incômodo muito forte que eu nem conseguia explicar. Me questionei se deveria postar mesmo, se estava legal, bonito e interessante o suficiente. Pensei no que todas as pessoas que me seguiam iriam pensar, e foi me dando uma preguiça gigantesca de apertar o botão de compartilhar.
Isso me fez reparar no tanto que a minha relação com essa rede social vem mudando nos últimos anos. Já teve uma época em que eu não passava uma semana sem postar nada por lá. Eu até organizava e planejava como ia ficar o feed, usava sempre os mesmos efeitos pra editar as fotos e tentar criar uma padronização, tipo uma marca registrada. Acho que foi aí que esse relacionamento (meu e do Instagram) começou a ficar complicado.
Foi só com a popularização do Instagram, lá por volta de 2011 e 2012, que as redes sociais passaram a ocupar um papel importante na minha rotina. Não cheguei a usar o Orkut. Antes do Insta, só me lembro de usar aplicativos e serviços de mensagem, como o Viber e o MSN. O Instagram me pegou de cara porque sempre gostei muito de tirar fotos, e aqueles primeiros filtros do aplicativo eram TUDO pra mim.
Hoje esses filtros parecem péssimos! Se você não sabe ou se lembra como era o Instagram nos seus primeiros anos, dá uma olhada aqui. A gente tinha uma timeline cronológica, uma aba aleatória de explorar, uma para ver quem interagiu com o quê e outra para o seu perfil. Não tinha stories, mensagem direta, loja. E quase não tinha presença de marca ou empresa nenhuma! E nossas fotos ficavam com uma pegada meio vintage por causa dos filtros super escuros, intensos e saturados.
Os recursos eram poucos, mas já dava para construir e fazer parte de comunidades e fã clubes, acompanhar hashtags e até fazer amizades. Sigo até hoje os perfis de algumas amigas de vários cantos do mundo que conheci pelo Instagram lá no comecinho da rede, porque a gente tinha gostos musicais em comum (sim, eu tive uma fanpage de boyband no Instagram, e era muito gostosinho).
Por mais que eu gostasse do Instagram, tivesse vários perfis e postasse quase diariamente, tenho que dizer que a rede social da minha adolescência foi o Tumblr. Passava horas e horas todos os dias reblogando gifs das minhas séries favoritas, textos dramáticos e frases clichês que todo mundo atribuía ao Caio Fernando Abreu, Tati Bernardi ou a Clarice Lispector. Era como fazer uma curadoria de pedacinhos de outras pessoas pra tentar mostrar quem eu era.
Eu sentia, de verdade, que essa rede era um refúgio, porque era muito fácil se identificar com o que aparecia por lá e montar uma timeline que te agradasse 100%. Afinal, o Tumblr sempre mostra a autoria das publicações, então mesmo que um post chegue até você porque outra pessoa reblogou, dá pra ver quem criou e seguir aquela pessoa também.
No Tumblr, não fazia muita diferença o que você publicava ou não. Nunca fui famosa ou tive muitos seguidores lá, e nem era meu objetivo. Me ver nas publicações de outras pessoas era o suficiente, porque me dava a certeza de que eu não estava sozinha nas coisas que sentia, queria, pensava e gostava.
Às vezes bate uma saudade e acesso a minha conta lá pra dar uma olhadinha em como estão as coisas. Mas o fato é que a vida fora da internet foi acontecendo, e foi me sobrando cada vez menos tempo para rolar a timeline do Tumblr por horas e horas. Acabei deixando a rede de lado. Mas o Instagram, não. Porque enquanto a vida fora da internet foi acontecendo, o Insta foi ficando mais e mais popular entre outros públicos além dos adolescentes, até que começou a virar o novo Facebook. Ninguém pensava em sair do Instagram naquele momento, só tinha mais e mais gente chegando.
Depois disso, na minha cabeça, tudo aconteceu muito rápido: vieram os stories, para desbancar o Snapchat; depois o IGTV, pra concorrer com o YouTube, as funcionalidades próprias para perfis de empresas e de influenciadores; as mensagens diretas; a aba de compras; os filtros animados e que modificam o rosto; o explorar ficando cada vez mais parecido com uma vitrine de um shopping infinito; e o reels, para tentar fazer frente ao fenômeno do TikTok.
Apesar de ainda não ter tantos usuários quanto o Facebook e o YouTube, acho que dá para dizer que o Instagram influencia demais na nossa rotina hoje em dia. Arrisco dizer que influencia até mais do que deveria.
A gente não pode esquecer que o Instagram é um produto de uma empresa que gera lucro com a exibição de anúncios. Você já parou para pensar quantos pequenos e médios negócios hoje dependem quase que inteiramente dessa rede para fazer sua divulgação e conseguir vender? Lembrando que as micro e pequenas empresas são responsáveis por quase 30% do PIB brasileiro, imagina o impacto que uma alteração no algoritmo de uma rede social pode ter em um país inteiro. E quem altera esse algoritmo? A empresa dona do Instagram, a tal da Meta, que, como qualquer outra empresa, está sempre pensando em benefício próprio.
Pode ser difícil pensar no Instagram como uma empresa poderosa com interesses próprios, principalmente para quem está lá desde o início, quando a gente só brincava de colocar filtros nas fotos e compartilhar com os amigos. Mas hoje é fácil perceber como tudo está orientado para propaganda e venda no aplicativo. A cada duas publicações que você vê de pessoas que segue, aparece uma propaganda paga.
Até os posts sem nenhuma propaganda paga são uma tentativa de te vender alguma coisa: a brusinha que a blogueira está usando, a xícara de café minimalista que aparece no vídeo de alguém mostrando a rotina da manhã, a viagem que todo mundo está fazendo no verão, a maquiagem euphórica que está na moda. Mais do que uma rede social de compartilhamento de fotos, hoje o Instagram é uma plataforma de compartilhar estilos de vida. E que diz que você pode ter qualquer estilo que quiser, contanto que você pague por isso.
Nunca fui uma pessoa consumista, daquelas que precisa comprar pra se sentir melhor, que não pode entrar no shopping sem sair com pelo menos uma sacolinha. Ter muitas coisas não é uma ideia que me chama a atenção. Mas o Instagram não está tentando te vender só coisas. É aí que a rede começa a me fazer mal. Ela tenta vender uma vida e uma rotina que é muito mais legal, bonita, interessante e fotogênica que a sua. Não é só sobre as coisas que você tem. É sobre poder trabalhar em um escritório diferentão com pufes e uma vista incrível. Poder viajar para uma praia paradisíaca todo feriado. Comer pratos gostosos, bonitos e saudáveis o tempo todo.
É isso que me dá tanta preguiça no Instagram e, mais recentemente, no TikTok também. Por mais que eu tire uma foto muito linda ou faça um vídeo muito legal, sempre vou esbarrar em uma publicação de alguém que parece ter uma vida muito mais interessante e divertida que a minha.
Depois que percebi isso, comecei a mudar o jeito que utilizava as redes sociais. Deixo aqui, inclusive, as dicas, caso você queira uma relação mais saudável com a internet:
coloquei um tempo de uso limitado no meu celular que bloqueia os apps de redes sociais entre às 19h e às 8h;
parei de seguir qualquer perfil de loja, marca ou empresa (não interessa se é a lojinha da amiga ou a empresa em que eu tô trabalhando, não sigo nenhuma);
parei de seguir também blogueiras ou qualquer pessoa famosa com corpo extremamente dentro do padrão, falso ou photoshopado, e que só falasse sobre moda e estética (agora só sigo umas três ou quatro influenciadoras que gosto muito, que falam sobre outras temáticas e que tem corpos parecidos com o meu);
evito usar as redes sociais no celular, tento acessar sempre que possível pelo computador, porque a quantidade de anúncios é BEM menor (no Instagram Web, inclusive, não tem anúncio nenhum);
por fim, removi todos os seguidores do meu perfil que eu não conhecia, assim acabei cortando meu número de seguidores pela metade (ou gente que eu até conhecia, mas não queria mais que me seguisse por lá).
Tudo isso me ajuda a passar menos tempo nas redes e a me comparar menos com as outras pessoas. Só que mesmo assim, aquela preguiça que vem na hora de publicar qualquer coisa continua aqui. Consegui melhorar um pouquinho a minha relação com o que as outras pessoas postam nas redes sociais, mas não consegui resgatar aquele sentimento gostoso que eu tinha de editar e postar as minhas próprias fotos e vídeos. Não consigo mais sentir que o Instagram é o melhor lugar pra fazer isso. Ele não é mais uma rede social casual. Parece que qualquer publicação exige muita coisa para ficar à altura da plataforma.
Pode ser que seja só uma impressão minha? Pode. Talvez eu esteja seguindo os perfis errados. Se você souber de gente legal que ainda usa o Instagram de forma mais autêntica, me passa os @s? Inclusive, na gringa, até vi rolando um movimento de tornar o Instagram casual de novo (#MakeInstagramCasualAgain), mas parece que isso não colou por aqui.
Tenho conseguido trazer de volta um pouquinho do meu amor por tirar, editar e compartilhar fotos lá no VSCO. Ele também é uma rede social, mas com uma proposta bem diferente do Instagram (com filtros bem mais bonitos também). Os criadores do VSCO afirmam, nesse manifesto aqui de 10 anos da rede, que a ideia por trás da plataforma é construir um espaço para criadores que seja livre de julgamentos. Lá, você pode curtir fotos e seguir quem te inspira, mas não tem contagem de número de curtidas, nem de seguidores. Também não tem anúncios e nem posts patrocinados. Não tem comentários nas fotos, mas tem mensagens diretas. Tem timeline cronológica, e também dá para repostar as fotos de outras pessoas, parecido com o reblog do Tumblr.
Queria que mais gente que eu conheço estivesse no VSCO também. Sinto falta de uma rede social que possa ser, hoje, o que o Instagram era antes de virar um shopping. Acho que o VSCO pode cumprir esse papel. Mas aguardo também outras redes sociais que ainda estão por vir. Enquanto isso, a gente vai se virando com outros canais pra compartilhar um pouquinho de nós mesmas com as outras pessoas, como essa newsletter. <3
Marina acabou postando sim aquele vídeo do começo do texto no Reels, apesar da preguiça e do desânimo com o Instagram, porque ainda quer deixar algumas lembranças registradas por lá para revisitar no futuro. Está tentando recuperar o hábito de fotografar pequenos momentos especiais, mesmo que eles não sejam postados em lugar nenhum.
Por Laura Brand
"Eu não aguento mais criar conteúdo", disse a pessoa produzindo conteúdo em um texto que está sendo lido por você nesse exato momento. A mesma pessoa que trabalha com isso de três formas diferentes (para o próprio blog/canal/redes e para duas editoras, sem contar os freelas). A mesma pessoa que ama produzir conteúdo.
Só que eu estou cansada.
A verdade é que meu cérebro já está condicionado e programado a tentar transformar absolutamente tudo em conteúdo a todo instante. Não é algo que dá pra desligar. O que significa que, durante todo o tempo que estou acordada, estou de plantão, colhendo informações e observando meu cérebro processá-las, tentando transformá-las em algo novo que possa gerar algum tipo de resposta em alguém, ou que gere o ímpeto de comprar aquele produto relacionado ao assunto em questão (no meu caso, seja comprar uma ideia ou querer comprar um livro mesmo). O horário comercial se torna todo e qualquer horário em que estou acordada e consciente, ou seja, existindo.
Não me leve a mal, eu amo o que faço, não me vejo fazendo outra coisa no momento e estou descobrindo cada vez mais que consegui transformar exatamente aquele desejo de me comunicar com as pessoas, que me fez cursar Jornalismo em uma realidade e profissão. Só que estou tendo um sério problema em fazer meu cérebro desligar um pouquinho, ou pelo menos criar um distanciamento entre aquilo que eu faço por dinheiro e o que absorvo de informação como um ser humano normal.
Gostaria que minha mente batesse ponto. A maior parte das pessoas só começa a trabalhar quando bate o ponto na empresa, e termina o expediente batendo o ponto na saída. O trabalho começa e termina ali (pelo menos deveria ser assim). Só que o meu trabalho não me permite isso. Porque trabalho com internet, com o famoso "conteúdo".
Chame de criadora de conteúdo, influencer, social media, copywriter, ou o que quer que seja a nova palavra ou termo aceitos pelos publicitários. A maior parte da minha rotina é composta pelo tempo que gasto criando textos, fotos, vídeos, qualquer coisa que chegue para as pessoas de forma on-line. Ao mesmo tempo em que fico superfeliz em poder trabalhar e ganhar a vida criando e postando coisas na internet, sinto falta de uma época em que as redes sociais serviam apenas como diários visuais e pontes entre pessoas que talvez não tivéssemos a chance de conhecer se não fosse via internet. Hoje tudo é conteúdo, tudo precisa ser mastigado, tudo precisa existir com um propósito. E se isso já é cansativo para quem está do outro lado da tela, imagina para quem precisa fazer isso acontecer como ganha pão?
Alguns dos trabalhos que mais gosto envolvem muito tempo de pesquisa, e são apaixonantes porque sinto que, além de contribuir de alguma forma para quem vai ler, também aprendo muito no processo. Eu amo estudar, amo ler, amo aprender. Só no segundo semestre do ano passado tive o privilégio de poder escrever textos biográficos e prefácios para entrar em livros superlegais A sensação de ver aquele texto impresso, encadernado nas páginas de cada um dos livros, me deu a esperança de que ainda existe algum tipo de conteúdo que consegue se manter minimamente duradouro. E acho que talvez esse seja justamente um dos grandes problemas das redes sociais, e um dos principais motivos do meu cansaço em relação a elas. Ao mesmo tempo em que aquilo que está na internet está ali para sempre, vivemos uma era de efemeridade em que tudo tem um prazo de validade irrisório.
Quando meu cérebro não está fritando com informações e ideias, está refletindo sobre como estamos absolutamente à mercê das redes sociais. O pior é que, como tudo hoje em dia se baseia na produção de conteúdo, e como as redes sociais priorizam conteúdos fáceis e rápidos, entramos em um looping de ter que sempre produzir mais, mais e mais. Chegamos em um ponto em precisamos produzir e o conteúdo precisa viralizar, mesmo que ele nem seja tão bom assim. Me sinto pressionada a estar sempre entregando algo porque, caso contrário, o alcance diminui e o engajamento desaparece. E reconquistar isso depois é um parto.
Então o conteúdo de valor, que é algo que prezo, vai ficando esquecido e menosprezado diante da última dancinha do TikTok. Perdi a conta de quantas vezes gastei dias de pesquisa e escrita para produzir um conteúdo que mal foi entregue para duzentas pessoas, enquanto uma coreografia repetitiva batia fácil os milhares de acessos, com vinte segundos de vídeo. É um desânimo para quem trabalha com isso e tenta se virar entre as tendências, também para quem consome conteúdo. Acho que eu sofreria um pouco menos se percebesse que, pelo menos, o que estou fazendo está chegando para quem deveria chegar. No mínimo, para quem escolheu me seguir e consumir aquilo, porque hoje em dia nem isso acontece. A verdade é que estamos cansados de receber apenas aquilo que algum algoritmo acha que queremos receber.
Veja, sem julgamentos, também acho divertido assistir um casal bonito se atrapalhando com uns passinhos engraçados, é um conteúdo leve e divertido que não precisa querer vender nada para existir. A única rede que ainda uso apenas com fins de entretenimento é o TikTok e faço questão de apenas curtir vídeos de gatinhos para que só isso apareça para mim. É meu tempo de descanso mental quando estou on-line. Nem tudo precisa ser informativo, nem tudo precisa agregar algo, nem tudo precisa fazer pensar também. Ai do nosso cérebro!
Só que o problema é que essa linha entre entretenimento e consumo não existe mais, e parece que nem as próprias redes sociais sabem como lidar com o usuário. Então entramos em uma realidade em que, de um lado, quem consome as redes sociais a nível pessoal não tem mais saco pra entrar nelas porque só encontra anúncio, loja e conteúdo sendo forçado goela abaixo, e, do outro, temos aqueles que se viram para trabalhar com isso produzindo conteúdo de valor, mas que tem que ser facilmente absorvido e rapidamente consumido, que impacte, que não pareça um marketing raso, que gere algo positivo no usuário. Só que o que fazer quando a pessoa que produz não aguenta mais ser submetida à experiência do próprio usuário? Não é à toa que está surgindo, cada vez mais, o questionamento se as redes sociais estão morrendo. Porque nem os próprios usuários estão aguentando mais.
Para além disso, o que fazer quando estamos tão imersos em tantos estímulos que sequer conseguimos reter uma informação por mais de alguns minutos? Tem um perfil que eu adoro acompanhar no Instagram que é o Agência de Bolso. Em um dos posts do perfil, o autor falou sobre a curva do esquecimento. Segundo o psicólogo alemão Hermann Ebbinghau, quanto mais o tempo passa, mais esquecemos o que foi visto ou lido por nós. Só uma hora depois de lermos algo já esquecemos metade do que foi "aprendido" e, se não revisarmos e praticarmos aquilo, o cérebro considera a informação irrelevante e, como um post vergonhoso de 2011, deleta. Agora eu te pergunto: quantas vezes você parou tudo para ler um post que apareceu no seu feed? Realmente ler com toda a atenção? Quantas vezes você voltou, releu, pesquisou mais a respeito, ficou pensando naquilo? Arrisco dizer que se foi um em cada dez, você já está bem acima da média.
Cheguei em um ponto em que, às vezes, sequer lembro do que eu mesma escrevi e isso é assustador. Às vezes sinto que só transformei aquela máxima do Jornalismo de que a notícia de hoje vai embrulhar a banana no mercado amanhã de manhã. Pensando assim, pelo menos não me afastei tanto da profissão da qual me graduei, né? kkkkrying
Também que chegamos no ponto em que a grande parte das pessoas nem sabe que está consumindo conteúdo capitalizado ou com fins de venda, nem que essa venda seja de um estilo de vida e não de um produto material. Acho que talvez seja por isso que algumas plataformas como Telegram, Discord e Twitch estejam crescendo tanto, porque elas prometem interação de verdade. Genuína.
É óbvio que quem trabalha com isso vai dar um jeito de encaixar uma publi ali em algum lugar, mas é uma forma mais direta, honesta e transparente de vender alguma coisa. E talvez seja por isso mesmo que sejam plataformas que eu, hoje, mais uso no meu dia a dia. Trabalho com a Twitch? Trabalho, mas, usando a frase favorita dos BBBs, "vejo mais verdade ali". Uso a Twitch porque vejo pessoas ali, não vitrines, uso o Discord porque ouço a voz dos meus amigos, não uma música chiclete que vai dar lugar a outra tendência amanhã.
Continuo sendo apaixonada por conteúdo porque conteúdo é informação, conexão, interação, mensagem. E como boa comunicadora (o sol em gêmeos aí também ajuda), gosto de sentir que palavras podem levar mais do que só alguns caracteres. O problema é o equilíbrio.
Por muito tempo pensei que a resposta para esse dilema talvez fosse separar melhor o tempo e a disposição entre aquilo que está sendo feito por trabalho e aquilo que é feito por prazer. Mas em meio a tanta coisa tão massificada, penso que, talvez, a solução seja colocar mais de si naquele conteúdo, mesmo que ele seja criado de forma mais lenta e cuidadosa, mesmo que ele não seja entregue pra quase ninguém.
Gosto de pensar que aquilo que faz sentido para alguém só precisa fazer sentido para uma pessoa. Já tá valendo se for de verdade. E quero acreditar que aquilo que eu faço é diferente de todo o resto, nem que seja um pouquinho. Porque coloco muito de mim ali, e espero que as pessoas enxerguem pelo menos isso.
Daqui, sigo apaixonada pela internet e todos os milagres que ela opera. Agradeço por ser meu ganha pão e fonte diária de inspiração. Mas ainda estou descobrindo um jeito de desacelerar (por mais slow content, por favor) e de não enxergar conteúdo em tudo aquilo que acho minimamente relevante ou interessante. Aceito dicas de quem souber a resposta para esse dilema, porque meu cérebro agradece.
Laura quer voltar a conseguir ler seus livros sem pensar em quinze tipos de posts diferentes para cada parágrafo que lê. Está se policiando cada vez mais em relação ao que sente vontade de criar, mas não tem vergonha de admitir que, na maior parte do tempo, falha miseravelmente. Está aprendendo a curtir alguma coisa e, de vez em quando, só guardar pra si, mesmo que seja apaixonante.
Por Giulia Staar
Não vou fazer um texto criticando as redes sociais hoje. Queria falar um pouco sobre como eu me sinto hoje em relação a elas em um nível muito pessoal.
Houve um tempo em que, para mim, existir nas redes sociais era difícil. Era só um recorte de quem eu queria ser. Um recorte de algo bom. Era a beleza eternizada bem ali por alguns segundos. Uma visão bem romantizada, cheia de cores, de como eu gostava de viver a vida.
Eu gostava de rolar meu feed e olhar para as minhas melhores lembranças eternizadas na forma de alguém que já fui e nunca mais seria. Até que um dia olhei e percebi que talvez estivesse olhando para alguém que nunca nem cheguei a ser. Vou te contar mais ou menos como foi.
Em 2017 minha avó faleceu. Ela era minha melhor amiga. Quando leio alguma piada ruim ainda consigo ouvir a risada engraçada dela ao fundo. Quando vejo algo legal ainda penso em encaminhar para ela por e-mail. Constantemente sonho com ela, me dizendo que está aqui e que quer conversar comigo.
Em 2017, tinha 21 anos e nunca havia perdido ninguém que amasse tanto quanto amava minha avó. E esse tipo de perda é capaz de te destruir. Você precisa se construir de novo e, obviamente, não consegue encaixar nada no lugar da mesma maneira. Tudo parece errado dentro de você, remexido e bagunçado como uma lancheira de criança que foi balançada e acabou toda encharcada de suco de maracujá por dentro.
Eu tinha uma relação diferente com as redes sociais naquela época. Eu não sei se publicava coisas por mim, ou se estava compartilhando o que precisava para impressionar outras pessoas sobre quem eu queria que elas achassem que eu fosse. Além de sempre ter amado tirar fotos, eu também adorava compartilhar. Sentia que parte legal da vida também era compartilhar com algumas pessoas o que eu estava vivendo, ou o que eu sentia.
Até que tudo que eu comecei a sentir era tristeza. Fiquei meio perdida. E pensei, por que não compartilhar como eu me sentia também com as outras pessoas? Eu amava escrever, mas guardava tudo para mim. Até que fiz minha primeira postagem falando um pouco sobre como vinha me sentindo. Sobre a bagunça que se encontrava dentro de mim.
Com o tempo, fui postando nas legendas das minhas fotos o que quer que passasse na minha cabeça, fui perdendo medo de julgamentos, impressões ou qualquer coisa do tipo. Minhas redes foram se tornando um diário, um espaço onde criei liberdade para ser quem eu era.
Me ajudou tanto passar pelo meu período de luto ter um espaço para dizer para o mundo coisas que gritavam aqui dentro, coisas que abriram espaços e entranhas no meu corpo, me rasgando e implorando para serem ditas.
Encontrei acolhimento em mim mesma, me expondo um pouquinho, assim como faço aqui nessa news. Eu sinto que a gente pode sempre encontrar formas de utilizar as redes sociais de forma positiva. Seja para acolher a nós mesmos ou outras pessoas.
Apesar de sentir que sou puxada todos os dias por uma força que vai contra a tudo que eu acredito, dizendo que devo me render a comparação, a dúvida sobre mim mesma, a crueldade desenfreada e a julgamentos extremos, faço o exercício de sempre lembrar que a internet é só mais um campo interacional da vida. E que, como todos os outros, é uma escolha de cada um mostrar o que quer.
Tento escolher todos os dias ir mostrando partes reais de mim, até para me reconhecer em todas as esferas de quem eu sou. Não quero nunca me tornar uma estranha para mim mesma, me ver e não enxergar nada de mim. Acho que não teria mais nada cruel do que isso.
Tem gente que pode achar que não, mas penso que quem somos na internet é uma extensão de quem também somos na vida real. E o que faço, é tentar trocar com quem tenta fazer o mesmo, com quem escolhe mostrar as partes reais de si.
Pelo menos, é o que eu digo para mim mesma toda vez que meu celular manda um alerta dizendo que passei seis horas do meu dia nele! HAHAHA E tem dado certo.
As coisas não têm sido fáceis para Giulia. Um dia ela vem falar sobre tudo aqui, afinal, como disse no seu texto, sempre vai tentar ser o mais real possível. As redes têm sido um grande suporte. E você pode achar que não, mas compartilhar o que você sente pode fazer a diferença para muitas pessoas.
Indicações nada aleatórias e muito bem preparadas para continuar a conversa
Para ler
→ No meu texto falei sobre o lado bom das redes sociais (pelo menos na minha perspectiva extremamente pessoal). Semana passada havia lido um livro que também me fez pensar muito na importância desse imenso canal que também pode ser de acolhimento. Ela disse, das jornalistas Jodi e Megan, conta a história dos bastidores da reportagem que impulsionou o movimento #MeToo na internet e possibilitou a denúncia de diversas mulheres a assédios sofridos ao longo de suas vidas. - Giulia
→ Pensando em todas as formas como criar e consumir conteúdo está mudando na internet, escrevi um texto refletindo sobre a volta dos blogs. Falo bastante sobre um crescente sentimento de nostalgia e algumas plataformas que servem de consolo em meio a tantos algoritmos loucos. - Laura
→ Se já indiquei esse livro umas cinco vezes nessa curadoria, peço desculpas, mas vou me repetir. A alma perdida conta a história de um homem que trabalhava muito e quase não prestava atenção no tempo que passava diante de seus olhos. Acho que nem preciso explicar por que o livro tem tudo a ver com o tema dessa news, né? - Laura
Para ouvir
→ Escrevi esse texto ouvindo Slowly da Olivia Dean. Essa música é tão linda que não poderia ser outra coisa senão extremamente triste. - Giulia
PS: Temos uma playlist no Spotify para reunir todas as nossas indicações musicais da news. Corre lá para seguir!
Para assistir
→ O dilema das redes fez bastante barulho na internet quando foi lançado na Netflix, e com razão. Acho muito importante que todo mundo assista esse documentário para ter uma noção mais clara de como as redes sociais funcionam, e como podem ser usadas para nos manipular sem que a gente perceba. - Marina
→ Quem me conhece já sabe que eu gosto demais da Nátaly Neri. É uma das poucas influenciadoras que eu sigo e acompanho mesmo em várias redes sociais, porque tudo que ela fala é sempre muito bem embasado e dá para ver que vem de muito pensamento crítico. Ela tem dois vídeos muuuito bons sobre redes sociais: o fim das redes sociais e o algoritmo vai matar o criador de conteúdo. - Marina
Os textos dessa edição foram gentilmente revisados pela Lorena Camilo. Ela diz que é fã da nossa news, mas nós que somos fãs dela. Já salva as redes dela aí para quando você precisar de uma revisora excelente no futuro. 😉
Lorena tem uma relação muito ambígua com as redes sociais. E isso não é algo recente, é desde a época da primeira, que foi o Orkut. É uma mistura de desconforto, incômodo, autojulgamento, ensimesmamento e cansaço do bombeamento de anúncios. Ama ver perfis autênticos (como o da Giu), restringe o tempo de uso do Instagram, e apenas usa o Twitter no computador. Assim ela vai driblando para consumir conteúdo de forma mais "saudável", e poder se lembrar do que viu e leu algum tempo depois.
Muito obrigada por ter conferido nossa news até o final. Preparamos com muito carinho e estamos felizes demais com o tanto que esse projeto está transformando a gente e vocês também. 👉 Não se esqueça de responder a nossa pesquisa nesse formulário aqui, é bem rapidinho!
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Vamos juntas*,
*Pessoas de todos os gêneros (binários ou não) são mais que bem-vindas a acompanhar a news. Mas nós escolhemos nos referir a pessoa que está lendo pelo gênero feminino. Na língua portuguesa, o plural masculino pode conter pessoas de outros gêneros. Então, no nosso espaço, decidimos que o feminino também pode. Se nos acostumamos a estarmos contidas no masculino, também podemos aceitar estarmos contidas no feminino.